"Mais Paciência, Garotão": O Que Aprendi com Nick e Anne #20
ou o fato incontestavel de eu estar virando um tiozão
No último post, na parte de links e dicas do que assistir, acabei comentando que estava assistindo à série “Four Seasons” da Netflix e que, até então, não havia me conectado a ela. Naquele ponto, eu tinha visto dois episódios de oito no total. Talvez eu tenha me precipitado – e realmente foi isso que aconteceu – porque o resto dela me impactou mais do que o previsto. Que fique a lição: mais paciência, garotão.
A série aborda vários temas [e em várias camadas] que vão sendo diluídos no decorrer dos episódios, que são demarcados pelas estações do ano. Ou seja: para cada estação, uma situação diferente, sempre respeitando a proposta principal: três casais que se encontram nas férias ou feriados para passarem um tempo juntos. Até que um deles [Nick e Anne] se separa. Os motivos: a relação estava desgastada por falta de diálogo. O problema é que a decisão não foi mútua e, pós-divórcio, Nick começa a se relacionar com uma pessoa muito mais nova do que ele.
É claro que essa situação acaba respingando nos outros casais e, de alguma forma, na nossa cara também. As situações são corriqueiras demais, próximas demais. Em vários momentos me peguei pensando em quantas relações falidas eu não estive envolvido por falta de comunicação entre os dois lados. De coisas simples como uma toalha molhada na cama, um lanche comprado errado, até problemas mais graves como dinheiro. De grão em grão, vamos internalizando situações e sentimentos até tudo ficar muito pesado, uma panela de pressão prestes a explodir e se tornar insustentável. É cruel porque, apesar de serem tantas coisas, o processo é extremamente lento e doloroso. E, dependendo do ponto em que se está, o diálogo pode não ser mais suficiente. Aí, fatalmente, a relação implode.
Daí, para tampar esse buraco emocional que fica, buscamos sempre alguma coisa que supra [e nunca é terapia. Essa é em último caso]: expor-se a cenários que o coração e a mente ainda não estão preparados. No caso de Nick, se envolver com uma pessoa 25 anos mais jovem. Não vou entrar no mérito das infindáveis problemáticas disso. Além disso, o objetivo não é moralizar a situação ou falar o que é certo ou errado, mas dar um pitaco na consequência imediata que isso causou [e que foi a parte que mais me identifiquei na série e que com certeza me rendeu mais risadas]. Essa observação sobre as consequências imediatas da decisão de Nick nos leva a um ponto crucial da série e, para mim, o mais ressonante: o conflito geracional.
A playlist a seguir não deixa eu mentir.
A idade de todos os casais varia entre 40 e 50 anos, o que não é muito longe da minha. Estou muito mais próximo cultural e comportamentalmente deles do que da galera de 25 anos para baixo. E como a série reflete isso, alinha-se perfeitamente a várias situações que eu já passei ou até pensamentos sobre essa geração que está abaixo da minha. E isso se estende para quase todas as áreas culturais – que é onde residem as maiores diferenças.
[Na minha turma de audiovisual, 95% não havia nascido ainda no 11 de setembro. Eles não têm ideia do impacto direto que aquilo gerou naquele ano, e nos próximos 10, pelo menos. Mas isso é papo para um outro texto]
Usando a própria série como exemplo. Ela se caracteriza com o gênero comédia/drama. O famoso dramédia. Para mim, a série funcionou de maneira parcial, talvez funcionasse melhor se eu fosse um pouco mais velho. Acredito que para a geração Z e ALPHA ela funcione menos [se eu estiver subestimando vocês, crianças, me desculpem. Podem usar os comentários à vontade para me taxar].
Citando uma leitora que comentou no ultimo post:
Só é possível rir daquilo quando se vive aqueles tipos de constrangimentos
Erra ela não esta…
No fim das contas, “Four Seasons” não é só uma série para assistir; é um espelho. Ela mostra que a conversa é o que segura as pontas em qualquer relação, seja com a galera da nossa idade ou com a turma mais nova. A gente se vê ali, nas falhas de comunicação, nos perrengues do dia a dia, e percebe que, às vezes, a melhor saída é só sentar e falar. É um convite para olhar pra dentro, mesmo que doa um pouco, e entender que a vida e as relações são sempre um aprendizado.
DICA PARA VOCE ASSISTIR NO FINAL DE SEMANA[OU NÃO]
Fazia muito tempo que eu não assitia a um programa tão bom e tão bem produzido assim. O ensaio é uma proposta maluca feita pelo Natham Fielder. Basicamente ele prepara pessoas comuns para os maiores momentos das vidas delas, "ensaiando-as" em simulações cuidadosamente elaboradas. O cara faz até replica de lugares em estudios e locações. MUITO BOM!
Sempre bom lembrar que a Sem Pingo no I, essa newsletter semanal que está ganhando corpo e consistência a cada volume,é um espaço experimental, onde eu compartilho com vocês histórias e viagens produzidas pela minha cabeça.
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Não assisti “Four Seasons” ainda, mas deu vontade.
Outra que vale a pena e fala sobre relacionamentos e a importância da comunicação, combinando uma ótima pitada de coming of age, é “Normal People” (Mubi), vale a pena conferir.
“O Ensaio” é inexplicável. A nuance entre o que é roteirizado e o que é vida real se mistura em uma margem onde a linha não chega nem perto de ser tênue, ela apenas se perde. É genial. “Nathan For You” na lista.
Umas semanas atrás me vi umas coisas que a criançada hoje curti e tive três pensamentos em rápida sucessão:
1 - que m*rda é essa?
2 - era assim que meus pais se sentiam quando viam as coisas que eu achava da hora?
3 - sou oficialmente um tiozão