Esta semana, descobri que a distância entre um ensaio fotográfico de trabalho e uma crise existencial movida a fome é menor, e bem mais mal-humorada, do que eu imaginava. Tudo começou com uma simples prova de roupas.
Eu e o Hugo vamos tirar fotos para as redes sociais da produtora. Tudo muito sério, tudo muito chique. Durante o processo e conversas com a fotografa, ela pediu referencias de roupa e estilo. Muito difícil para mim.
Sou um cara que durante muito tempo da vida apenas vestia o que cabia. Não era como se eu pudesse escolher entre uma estampa ou outra. Se coubesse, não teria o menor problema o desenho do Ben10 bem no centro da camisa, mesmo já tendo 25 anos de idade. Depois de muito tempo, Ozempic e vários quilos a menos, fui “desenvolver” algo parecido com estilo [o que pode ser resumido em roupas pretas].
Conforme o tempo foi passando e eu acostumando com o fato de poder escolher roupas, fui adquirindo de maneira progressiva e bem natural, um visual meio bicheiro carioca [moro no interior de São Paulo], meio policial da Florida à paisana [interior de São Paulo], meio guitarrista do TOTO e, porque não, Danny Mcbride na excelente série Eastbound. Traço de personalidade? Quase isso. Digamos que essas roupas combinam de uma maneira quase cósmica comigo. Tenho que ver isso no Taro.
Enfim.
Peguei todas as camisas e camisetas que tenho no armário, uma inclusive comprada no Rio, e fui vestir para mandar a foto como referência. Elas fecharam no limite máximo. Eu era praticamente um Gabriel embalado a vácuo, com o botão da camisa prestes a estourar como a rolha de um champanhe no Réveillon. Completa decepção.
Foi nesse momento que tomei a decisão de fazer um regime, ou pelo menos voltar com o que eu tinha começado a fazer antes de as festas de fim de ano acabarem totalmente com o plano de tentar diminuir a pança. Sem cerveja, mínimo de carboidrato. Porções pequenas. Bom, os dois primeiros dias foram fáceis, mas depois as coisas começaram a ficar estranhas. Meu humor estava muito parecido com o do Koba quando descobre que o Cesar não odeia tanto os humanos assim [preciso ver o ultimo Planeta dos Macacos, inclusive].
As ideias foram aniquiladas pelo monstro que meu temperamento estava se tornando.
Por breves momentos eu estava me comportando como um velho rabugento que reclama de tudo e nada está bom. João Rock? Uma bosta. As músicas novas do Nando Reis? Horríveis, tudo muito prolixo e chato. Roteiro do novo curta? Rasga e joga fora. Sem contar a paciência 0 com a família e a namorada. Coitados... sempre sobra para alguém.
Isso chegou até a influenciar no meu processo criativo [logo eu que sou ateu de bloqueio criativo]. Fiquei dois dias inteiros procrastinando, vendo vídeos de redpill e conservadores se rasgando por conta do depoimento do Bolsonaro, jogando campo minado, tudo porque eu não conseguia parar a bunda na cadeira, pegar o caderno e escrever alguma coisa que fosse. As ideias foram aniquiladas pelo monstro que meu temperamento estava se tornando.
Imagino que deva ser mais ou menos assim que viciados em recuperação devem se sentir, com o adicional do delirium tremens, que deve ser realmente barra. Credo. Deus me livre. Como no meu caso são apenas carboidratos, alguns dias e essa bobagem passa.
Espero que as roupas sirvam.
DICA PARA VOCE ASSISTIR NO FINAL DE SEMANA[OU NÃO]
Gosto da Tina Fey, gosto do Steve Carrel, mas não consegui gostar da nova série da Netflix a The Four Season. Pode ter sido o meu mau humor que afetou minha opinião? Com certeza! Mas, sei lá, nada nela me convenceu a me importar com algum personagem ou, pelo menos, arrancar alguma risada. Fica a dica, talvez voces gostem.
Sempre bom lembrar que a Sem Pingo no I, essa newsletter semanal que está ganhando corpo e consistência a cada volume,é um espaço experimental, onde eu compartilho com vocês histórias e viagens produzidas pela minha cabeça.
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Hahaha ainda tá em tempo de encontrar umas correntes douradas pra compor seu look "bicheiro carioca". Avise!
Observação: eu ri muito com The Four Season porque me identifiquei com os personagens. Só é possível rir daquilo quando se vive aqueles tipos de constrangimentos, ou seja, ótimo sinal sobre você e péssimo sobre mim rs
Comentário adicional que ninguém pediu: Terminei de assistir "Uma noite em Tremor. Pesado. Pesadíssimo. Porém, bem construído e nada óbvio, muito bom.